A Eucaristia é a atividade central da igreja, mas essa atividade aparece para a maioria como um ato de culto, ritual e sagrado, não como um ato familiar e comunitário como pode ser o ato de comer. Contudo, chama a atenção que esse ato central, no NT, seja denominado "fração do pão"(At.2:42) e "ceia do Senhor"(ICor.11:20) dois termos relacionados com esse experiência humana básica que é o ato de comer. A expressão "partir o pão", não pertence ao mundo grego, mas o judaico, e representa o rito da comida familiar presidida pelo pai de família, pelo qual se da graças a Deus pelo alimento. Era um gesto humano, familiar e religioso ao mesmo tempo, que o Senhor faz seu.
Por outro lado a "ceia do Senhor", também nos remete a essa experiência humana do comer juntos em um momento
privilegiado da vida de Jesus. É "do Senhor!, certamente, e veremos que sentido,Jesus quis atribuir-lhe, mas também "ceia" é comida. O que surpreende é que Jesus tenha querido deixar para sua igreja, como ato central pelo qual quer ser recordado, o ato humano da comida. Porque a comida e não o jejum, por exemplo ou outro signo distintivo qualquer? Porque parece, que segundo a mentalidade corrente da época de Jesus, o jejum, aproximava mais de Deus do que a comida. E isso explica que Jesus apareça nos evangelhos como aquele que come com os homens e tenha que se defender por isso. "Veio o filho do homem, e ele come e bebe, e dizem: "Eis um glutão e um beberrão, amigo dos coletores de impostos e dos pecadores"(Mat.11:19). Como já vimos antes, o que caracteriza a época de Jesus não é o jejum, MAS A FESTA PELA PRESENÇA DO ESPOSO(Mc.2:18-22). A comida compartilhada expressa melhor a novidade desse tempo porque a comida é um sacramento. O Senhor faz sua essa realidade humana do comer para expressar o sonho pelo qual deu a vida. Daí que devamos partir dessa realidade humano para compreender o mistério da eucaristia.
O SACRAMENTO DA COMIDA
Comer é uma necessidade biológica que o ser humano compartilha com os animais,mas a sua comida nunca é mera atividade biológica, é sobretudo um fenômeno cultural e social, pelos múltiplos aspectos que implica.. Ninguém, por exemplo, que vai a um restaurante, escolhe o comer pela quantidade de proteínas que os alimentos contém, ainda que esses sejam mais nutritivos e baratos. Além do aspecto prático e técnico de satisfazer uma necessidade biológica, existe também o aspecto estético, que a propaganda televisiva aproveita como maestria. A mensagem entra pelo olhos. Mas porque se vai a um restaurante? Pode ser por comodidade, porque , porque é barato, mas sobretudo porque se apresenta uma ocasião especial, uma celebração, um aniversário, e então não apenas se escolhe o lugar em que se vai comer ou os pratos, sobretudo, as pessoas com as quais se come. Muitas vezes a seleção de um determinado restaurante é indicativa do status social de quem seleciona. Quando descobrimos, quando,onde e em companhia de quem são consumidos os alimentos, estamos em condição de deduzir, ao menos parcialmente, o conjunto de relações sociais que prevalecem em um grupo. Por isso se pode dizer que o "comer é a alma de toda cultura". Por isso, também podemos identificar os italianos com a pasta ou os mexicanos com a tequila ou as tortillas.
A comida é o "sacramento" privilegiado para expressar uma maneira de ver e de entender o mundo e a coesão de um grupo dentro de uma sociedade porque a comida expressa todo o sistema cultural ao qual pertence. Não há dúvida, de que em nosso mundo moderno, na proliferação dos numerosos estabelecimentos de refeição self-service, descobre-se muito da sociedade moderna tecnificada e planificada com tendência ao individualismo, e por trás das numerosas e variadas dietas descobrimos não apenas produtos light, mas uma cultura light, ou uma cultura do corpo e da estética. Uma espécie de religião laica do corpo. A comida também diz muito sobre o universo religioso de uma sociedade. Até háóico tempo os católicos se e identificavam por não comer carne nas sextas-feiras, e certos grupos religiosos rejeitam a carne de porco ou certas bebidas fermentadas.
Há sobretudo dois aspectos fundamentais no comer que ajudam a nossa reflexão sobre o valo sacramental da comida. O primeiro é que as regras do comer em uma sociedade não somente são expressão de bons modos, mas estão estreitamente relacionados com as barreiras ou fronteiras que um grupo social estabelece com o mundo social que o rodeia. O caso mais chamativos seria os dos judeus e suas proibições, de ordem religiosa, de comer com pagãos(At.10:28 e 11:3). O segundo é que a ordem interna de um grupo social se reflete e se sustenta na regra sobre o comer. e estas, por sua vez, expressam os valores e as hierarquias de um grupo social.
Expressão do que estamos dizendo a encontramos no capítulo 14 do evangelho de Lucas. Jesus é convidado a comer por um chefe dos fariseus que se sentia orgulhoso de acolher o famoso profeta. Jesus percebe que os comensais buscam os primeiros postos e então apresenta ao grupo um parábola 'a qual acrescenta tambem uma conclusão estranha também para nós: "quando deres um almoço ouum jantar, não convide teus amigos, nem teus irmãos,nem teus parentes nem vizinhos ricos,senão eles também te convidarão em troca e isso te será retribuido. Ao contrário,quando deres um festim, convida,pobres,aleijados, cegos e coxos, e será feliz porque eles não tem com que retribuir"(Luc.14:12-14). O testo reflete admiravelmente um mundo social estruturado e hierarquizado como qual comungamos ou do qual nos distanciamos. A comida,por isso,é um sacramento extraordinário,para expressar a comunhão, ou as rupturas em uma sociedade.
A refeições, de ontem e as de sempre, falam-nos dos modelos de relações sociais, da estratificação da sociedade e da solidariedade entre grupos. Ser admitido em uma refeição é ser admitido em um círculo de igualdade, de amizade e de solidariedade. O aspecto da relação social é sem dúvida mais importante que a comida. O IMPORTANTE NÃO É COMER MAS ESTAR JUNTOS.
O SACRAMENTO DO PÃO...
Manuel Diaz Mateos
pelos vínculos do calvário..
continua.......
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